Hei de ser

Hei de ser

Livre de minha estreiteza atual

Coberta de névoas e enganos

Mistificada, desnaturada

Carente do simples essencial

Livre da cobiça, vilã maldita

Atormentada e desregrada

Da sombra filha predileta

Que o caminho certo interdita

Livre da ardil-maldade sutil

Que corrompe e degenera

Os mais santos impulsos

Livre da ignorância, afinal

Prisioneira maior que gera

Amargos frutos polutos.

Dadivosa pobreza

Dadivosa pobreza

Quando o Sol de Assis a ti consorciou-se

Tomando-te por companheira mais íntima

Desfraldou imaculada bandeira de liberdade

Seu canto, então passional, transmutou-se

Em rasgos de ardente fé e simplicidade

Glorificando as maravilhas da imortalidade

Ó, pobreza, irmã mais singela e poderosa!

Tu, que ainda não resides em mim

És a porta da serenidade que almejo

Conheço-te em momentos fugidios

Quando calo meus quereres inúteis

E mergulho no silêncio da humildade

Sê comigo! Nas aflições és o remédio

A fortaleza mais segura, a âncora divina

O refúgio e o escudo no meio das ilusões

De ti brotam potências ignoradas à mente

Como mãe magnânima, doa-te incessante

Aos seres que a ti se unem confiantes

Raio de sol que dissipa as brumas do ego

Espada flamejante que destroça a sombra

Mediadora do encontro com o grande Ser!

Imortalidade

Imortalidade

Cantada pelos poetas
Vislumbrada pelos sábios
Sentida pelos santos
Em alegres prantos

Sonho e fantasia, dizem
Ideia ilusória de fracos
Que não abraçam o óbvio:
O corpo perecível e vão

Mas quem ousará dizer
Em alta voz e resoluto
Que a alma não é real
Em certeza, em absoluto?

Qual homem pode então
Fazer de sua estreita razão
Juiz infalível de excelsa questão
Sem se perder pelo sim ou pelo não?

Na dúvida, sigo o que fala manso
Em tom de candura inaudita
Na acústica da alma contrita
O coração sonhador e feliz

Ele, sim, ele é quem diz
E reafirma sem cessar
Que tolice é acreditar
Que alma imortal não há

Pois a Vida vem da Vida
Eterna, fecunda e infinita
De Si mesma tendo surgida
Como Luz Incriada e bendita!